Elizabeth Kubler-Ross (1926-2004) era médica e psiquiatra.
Nasceu na Suíça, onde estudou medicina, e participou como voluntária com equipas americanas na recuperação do Campo de Concentração de Meidaneck (Polónia) após a libertação do mesmo.Isto definiu o seu interesse, mais tarde, no comportamento das pessoas familiarizadas com a iminência da morte.
Trabalhou nos EUA 25 anos, em sectores de saúde mental de diferentes hospitais.Os seus livros traduzidos para mais de 25 idiomas e milhões de cópias vendidas, tornou-a uma das autoras mais lidas nos últimos anos.
Escreveu uma carta, em 1978, a uma criança diagnosticada com Cancro, que tinha, então, 10 anos de idade.
A sua carta foi uma resposta à carta enviada pelo menino, que lhe colocava 3 questões:
-O que é a vida?
-O que é a morte?
-Porque as crianças têm que morrer?
Usando os lápis de colorir da sua filha, Elizabeth escreveu uma carta ilustrada, o que provocou neste menino sentimentos de orgulho e felicidade, por ter tido direito a algo assim, só para ele.
Acontece que este menino não se limitou a guardar a carta apenas para ele. Compartilhou com muitas pessoas, sobretudo com os pais de outras crianças que sofriam de doenças igualmente graves.
Esta carta, com a permissão de Dougy, transformou-se, efectivamente num livro, que foi impresso e distribuído para ajudar outras crianças compreender essas questões importantes.
Dougy morreu 3 anos depois de a ter recebido.
Vale a pena a sua leitura.
Poderão ver aqui as ilustrações de cada página: http://kubler-rosscartaparaunnio.blogspot.pt/
Abaixo transcrevo-a, traduzida para português.
" Uma carta para Dougy
Escrita para ti no último dia de maio de 1978.
Esta é uma história sobre a vida, e tempestades de vento, sobre as sementes que plantamos na Primavera, as flores que desabrocham no Verão e as colheitas de Outono.
E de morte, que pode vir cedo para uns, e tarde para outros... Assim é tudo.
Imagina o princípio da vida e Deus, que criou tudo, como o sol que brilha sobre o mundo e nos aquece, que faz as flores crescerem e cujos raios sempre cobrem a Terra, até mesmo quando as nuvens tornam impossível para nós ver o sol.
Deus sempre nos vê, o Seu amor sempre brilha sobre nós e não importa o quão grande ou pequeno nós somos, pois nada jamais pode detê-lo.
Quando as pessoas nascem, elas começam como pequeninas sementes e são sopradas no campo. Algumas acabam nas caleiras de água, outras num bonito jardim de frente a uma sofisticada mansão, e outras num canteiro de flores... E assim é connosco, nós começamos a nossa vida numa casa rica ou numa família pobre, ou num orfanato, ou famintos, ou morrendo ainda enquanto bébés, ou amados pelos nossos pais que nos desejam muito, ou que nos adoptaram e nos escolheram. Algumas pessoas podem chamá-lo de jogo da vida, mas lembra-te de que Deus também controla o vento e Ele importa-se tanto com as sementes quanto com todas as coisas vivas, especialmente as crianças, e não existem coincidências na vida!
Ele nunca discrimina, ama incondicionalmente, compreende e não julga. Ele é todo amor. Você e Deus escolheram seus próprios pais entre bilhões de casais!
Escolheste-os para os ajudar a crescer e aprender e eles também podem ser teus professores.
A vida é como uma escola onde nos dão a oportunidade de aprender muitas coisas; tais como conviver com outras pessoas, entender os nossos sentimentos, aprender a sermos honestos com nós mesmos e com os outros, aprender a dar e receber amor; e, quando tivermos passado por todos estes testes (como na escola) nós poderemos nos formar.
Isso significa que nós teremos permissão de retornar ao nosso lar verdadeiro, para perto de Deus, de onde todos nós viemos e onde encontramos todas as pessoas que amamos: seria assim como numa reunião de família ou num baile de finalistas.
Assim é quando morremos, quando nos desprendemos do nosso corpo, quando tivermos terminado o nosso trabalho e estivermos prontos para seguir adiante.
No Inverno não podes perceber a vida de uma árvore... Mas a Primavera chega e as pequenas folhas verdes aparecem, uma após a outra... E no alto Verão a árvore está cheia de frutos, cumprindo o seu propósito, a sua missão.
No Outono, as folhas caem, uma a uma, e a árvore “descansa” durante o Inverno.
Algumas flores desabrocham somente por alguns dias e todos nós admiramos e amamos, como um sinal da Primavera e de esperança.
Então elas morrem, mas fizeram o que era preciso fazer!
Outras flores desabrocham por um longo período, e as pessoas assumem que elas sempre existirão, e nem percebem mais a sua presença – a maneira como as pessoas de idade são tratadas – visto sentados num parque até que um dia eles vão para sempre.
Tudo na vida é um círculo; o dia vem depois da noite e a Primavera depois do Inverno...
Quando um barco desaparece atrás do horizonte, ele não se foi, está apenas fora do alcance da nossa visão...
Deus cuida de tudo o que Ele criou: a terra, o sol, as árvores, as flores e as pessoas, que devem passar pela escola da vida antes de se formar.
Quando tivermos terminado todo o trabalho que nos propusemos a fazer antes de vir para a Terra, teremos permissão de nos desprender do nosso corpo, que aprisiona a nossa alma, como um casulo que abriga uma futura borboleta... E quando chegar o momento certo, poderemos deixá-lo e estaremos livres da dor, do medo e das preocupações.
Livres como uma linda borboleta voltando para a casa de Deus, que é um lugar onde nunca estaremos sozinhos, onde continuamos a crescer, cantar e dançar, onde estamos com aqueles que amamos (e que já se libertaram dos seus casulos) e onde estamos cercados com tanto amor que você nunca imaginaria."
